O passarinho…morreu!

Para nós, adultos a palavra morte já diz tudo e não precisa ser explicada. Convido a todos a buscar nas lembranças como foi a primeira experiência com a morte. Quem será que estava ao seu lado? Será que o contexto deste primeiro contato faz parte do conceito que hoje você possui sobre a morte?

Recentemente o passarinho dos meus filhos morreu. Foi tão rápido, ele aparentou estar doente pela manhã e morreu algumas horas depois. Ele foi um passarinho diferente. Desde que chegou para viver em nossa casa sua gaiola ficava aberta e ele entrava e saia dela quando bem entendia. À noite, quando estávamos todos em casa, ele subia pelo nosso corpo, comia na nossa mão e cantava alegremente. Fiquei tão triste quando na minha mão ele deu um último suspiro e ficou imóvel. Minha filha estava ao meu lado aguardando o que eu ia dizer. Não pude disfarçar as lágrimas e ela ficou observando toda a cena tentando entender o que pela primeira vez ela presenciava. Pensei bastante no que dizer e simplesmente disse: filha, ele morreu.

Minha filha me olhou e eu imagino que ela estava se lembrando das várias vezes que seu irmão, meu filho mais velho, disse: “Oh, Peter Pan eu vou te matar com o meu gancho”…..e na encenação meu filho enfia o gancho de brinquedo em mim e diz: “Ahaha, você morreu Peter Pan!”. Mas, segundinhos depois eu pulo do chão e saio correndo atrás do Gancho!

Será que ela fez a analogia entre o real e o imaginário? Arrisco-me a dizer que se ela chegou a essa analogia, seguramente não levou muito tempo nela. Pois, o cenário era bem distinto e o passarinho não saiu voando depois do anunciado.

Contei uma fábula que tempos atrás escrevi sobre a morte, fizemos uma caixinha para o passarinho e ela pintou metade dessa caixinha. A outra metade ficou reservada para meu outro filho. Fui busca-lo na escola e ainda no carro dei a notícia e contei a mesma fábula. Ele parecia muito curioso para ver o corpinho do nosso passarinho, como que para confirmar se não era uma brincadeira. Chegamos em casa e ele pintou o restante da caixinha e colocamos o passarinho la dentro e ele soube que o corpinho do passarinho não sairia mais de lá!

Percebi que meus filhos entenderam o que era morrer de verdade e de faz de conta, mas que isso não roubou a alegria do restante do dia! Quando meu marido chegou em casa meus filhos contaram ao pai o ocorrido. Usando a fábula, eles disseram que nosso passarinho portava no seu corpinho uma linda mágica e que a mágica tinha voado para algum lugar misterioso naquela manhã, mas que deixou um pedacinho dessa mágica nas nossas lembranças. Notei que eles replicavam o meu tom para falar. Esse tom é aquele famoso que os adultos usam para falar da morte! Mas, eles não estavam sentindo o mesmo que eu. Eles estavam vibrando com a história da mágica! Eles não estavam tristes com a morte, mas sim, entendendo como os adultos lidam com o conceito desta.

A morte será sempre a única certeza que carregamos e não me agrada nada a forma como conduzimos nossa única certeza na vida!
Seria demagogia dizer que não sofremos com a morte. Sabemos que não acontece como nos faz de contas! Mas, seria muito difícil se enquanto choramos a ausência pudéssemos também comemorar, cantar e agradecer todos os maravilhosos momentos que passamos ao lado daquela pessoa que se foi? Seria realmente lindo poder dizer que no primeiro contato real com a morte, meus filhos NÃO me observaram fazer exatamente como a maioria das pessoas na nossa cultura faz.

Contudo, estou feliz por ter aprendido com eles a sorrir pela mágica que o nosso querido passarinho nos proporcionou nos momentos que passou ao nosso lado.
Tempos atrás eu escrevi uma fábula sobre a morte. Essa fábula foi uma mentira até que meus filhos deram sentidos aos meus escritos e vida aos meus pensamentos! Eu precisei aprender com eles o que eu mesma escrevi!

Gostaria de compartilhar isso com todos os pais!

Antoniele Fagundes é Consultora Familiar e criadora da empresa Babá Ideal. Babá Ideal: (11) 6787-0537
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